A União Ecumênica ‘versus’ A Unidade do Espírito

“Solícitos em guardar a unidade do Espírito” (Efésios 4:3)

O falso princípio de uma união sobre a base de concessões mútuas goza de grande reputação e de uma bela aparência; mas é profundamente perverso e presunçoso. Supõe que a verdade está à nossa disposição. Filipenses 3 ensina um princípio totalmente diferente: não existe nenhuma idéia de concessão nem de nenhum arranjo para expressar a verdade para acomodar diferentes pontos de vista. Diz a Palavra: “Assim, todos os que somos perfeitos, isto mesmo sintamos” (v. 15). Não diz: “Façamos descer a verdade até a medida de quem não chegou à sua altura”. Tampouco se refere a duas pessoas que ignoram qual das duas tem a verdade, ou que estão satisfeitas de supor a possibilidade de engano quando renunciam mais ou menos ao que sustentam a fim de expressar seu acordo. Tudo isto constitui uma violação contra a autoridade da verdade sobre nós.

Segue dizendo o versículo: “e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá”. Aqui não se trata de uma questão de concessões, mas sim de caminhar juntos nas coisas que possuímos; e ao as reconhecer como a verdade de Deus, não podemos renunciar a nenhuma delas, mas sim, pelo contrário, todos nos sujeitamos a elas. Neste caso, não há lugar para nenhuma concessão, nem de um nem de outro lado; pois todos possuem a mesma verdade, havendo-a já alcançado em alguma medida, e todos caminham juntos, pensando a mesma coisa (compare-se 1Coríntios 1:10). O remédio para as diferenças de pensamentos que possam ficar, não é fazer concessões (como se poderia tratar assim com a verdade?), a não ser a revelação de Deus a favor daquele que é ignorante, como todos nós o somos sobre uma grande variedade de pontos.

Mas me objetará: “Sobre essa base, a gente nunca chegará a um acordo.” Mas onde encontramos na Palavra algo assim como “chegar a um acordo”? Chegar a um acordo não é a unidade da Igreja de Deus. A verdade não pode ser alterada, e não nos chama a impor pela força nossos imperfeitos pontos de vista sobre outros. Eu devo ter fé e, para andar juntos, todos devemos ter a mesma fé; mas nas coisas que recebemos como a verdade de Deus pela fé, não posso fazer concessões. Posso tolerar a ignorância, mas não posso acomodar a verdade para agradar a outros. Me perguntará: “Como podemos andar juntos em tal caso?” Mas por que estabelecer bases de unidade que requeiram ou unidade de opiniões, ou uma coisa tão perversa como a concessão desta ou aquela verdade? Quanto às coisas em que possuímos a verdade, e com respeito às quais temos fé, temos a mesma mente, andamos nelas juntos (Filipenses 3.16). Se chegasse a adquirir um maior conhecimento sobre alguma coisa, terei paciência com a ignorância de meu irmão até que Deus revele o assunto a ele. Nossa unidade jaz no próprio Cristo. Se a unidade depender de concessões, trata-se só de uma seita fundada sobre opiniões humanas, porque o princípio da absoluta autoridade da verdade se perdeu.

Me dirão que os verdadeiros cristãos nunca comprometerão os pontos fundamentais do cristianismo. direi : “entendo”; mas não é assim. Há muitos que estão de acordo apesar dos enganos que afetam os fundamentos. Sei que outros não estariam; mas isto não altera o fato de que o princípio de concessões não está de maneira nenhuma autorizado na Palavra, nega a autoridade da verdade sobre nós, e pretende poder dispor da verdade em honra à paz[1]. A Palavra supõe que suportemos a ignorância, mas nunca admite as concessões, por quanto não supõe que os homens possam elaborar regras diferentes dela mesma para chegar a um acordo.

Eu recebo a um homem “débil na fé” (Romanos 14); mas não lhe concedo nada como se fosse a verdade, nem sequer em um ponto tal como o “dos legumes”; talvez chegasse a negar verdades essenciais fazendo tal coisa. Tal caso pode acontecer, quando o fato de observar dias poderia pôr em dúvida a autenticidade cristã daquele que obra desta maneira (Gálatas 4:9-11). Pode haver outro caso do que só poderia dizer: “A respeito deste ponto, ‘cada um esteja plenamente convencido em sua própria mente'” (Romanos 14:5, 6, etc.). Às vezes o cristianismo inteiro depende de algo com o qual se pode ter paciência a respeito de outros pontos de vista (Gálatas 2:14).

Reitero, não há traço algum na Palavra de um sistema que suprima uma parte da verdade com o fim de ter uma confissão comum, a não ser justamente ao contrário. Nos tempos dos apóstolos estava a perfeita verdade, e Deus revelou tudo o que faltava, quando as circunstâncias eram contrárias. Todos eles eram de “um mesmo sentir”, de uma mesma mente, e caminhavam juntos, e não havia nenhuma necessidade de concessões. Ninguém pretendeu recorrer a uma coisa como esta. A Bíblia não contempla pretensões deste tipo. Seria mutilar a verdade para adaptá-la às idéias de muitos.

A Palavra, portanto, especialmente em Filipenses 3, condena este acerto de verdades mutiladas, feitas com o propósito de que outros as adotem, pois isso desonra a Deus e a sua verdade. Estes são os meios que se empregam para formar uma seita, a que se compõe daqueles que estão de acordo sobre os pontos que se estabelecem como fundamentos da união. Mas esta não é nunca a unidade da Igreja de Deus. Poderá ser uma seita ortodoxa, e inclusive abranger grande parte de uma nação, porque é um corpo formado sobre a base de um acordo ao qual os homens chegaram sobre certas verdades; mas isso não é a unidade da igreja de Deus. Nas “confissões ou declarações de fé” que se elaboram, não se trata de ter paciência com indivíduos que ignoram certos pontos, nem de reconhecer juntos que a algum falta o conhecimento disso, nem de iluminar a indivíduos que se encontram nesta situação: eles só declaram a verdade que possuem, a fim de que outros (por um acordo a essa declaração) unam-se a quem a tem adotado como fundamento da união. Para que todos a adotem, a profissão da verdade tem que ser reduzida à medida da ignorância de todos aqueles que ingressam, se forem sinceros nessa profissão; mas isto não é suportar, ter paciência, com outros, mas sim —como o tenho dito— se trata de pessoas que dispõem da verdade de Deus por um compromisso humano. É essa “a unidade do Espírito” (Efésios 4:3)?

De novo, prestem atenção a isto. Se eu conhecer a verdade, e faço uma concessão a fim de me unir a outros em uma confissão comum, minha concessão não é outra coisa que simplesmente conceder a verdade a alguém que não a quer ter. Agora, se junto com outros, faço concessões porque só temos opiniões e ignoramos a verdade, ou não temos certeza quanto a ela, que monstruosa pretensão, nesse estado de ignorância, é estabelecer uma regra para ser imposta a outros como fundamento da unidade da igreja, sob pena de não poder ser membro dela! Pode-me dizer: “Mas em lugar disto, você impõe suas próprias opiniões, ao estar seguro da verdade”. De maneira nenhuma; porque eu acredito em uma unidade que já existe: a unidade do corpo de Cristo, do qual todo cristão é membro (Efésios 4); enquanto que você estabelece uma união sobre pontos de vista a respeito dos quais se chegou mediante um acordo. você me dirá então que eu sou indiferente quanto à verdade. Não é assim; mas sim você empregou meios inadequados para guardá-la, impondo a outros a profissão de uma parte da verdade como base da unidade.

J. N. Darby

Qual é a unidade que agrada a Deus? (Parte 4)

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. (Efésios 4.1-6)

UMA TRISTE NOTÍCIA REAL

21. A verdade é, irmãos, que escrevo este texto para noticiar com lamento no coração algo que acontece neste momento dentro do chamado povo de Deus, no Brasil. Trata-se de uma pretensa unidade a ser firmada entre os evangélicos e os católicos romanos, projeto capitaneado por um famoso grupo de louvor que me tem entristecido por inúmeras vezes. Quando eles cantaram “A nossa unidade irá trazer a glória do Senhor”, em 2005, eu cantei junto. Não imaginava que seria este o tipo de unidade que eles estavam propondo. Depois disso, músicas que nós cristãos cantamos, com muita emoção e gozo no Espírito Santo, foram cedidas para padres católicos regravarem em seus CDs. Ao longo deste ano, foram muitas as manifestações dadas pelos integrantes desse grupo musical em favor da tal “união” com os católicos. A última delas, ocorrida em setembro, foi o evento “Um só Deus”, no qual um dos cantores ligados ao grupo uniu-se ao grupo católico Rosa de Saron para dizer: “Maior é o que nos une do que o que nos separa”.

22. A notícia é triste, mas real. O que me impressiona nisso tudo é que o Rosa de Saron soube aproveitar a oportunidade para cantar “Ave Maria” diante de uma multidão de evangélicos que estava presente. Qual terá sido a reação destes? E qual a opinião do tal grupo de louvor evangélico diante disso?

23. Sinceramente, receio que este grupo já tenha caminhado no erro por tempo demais, ao ponto de o Senhor ter rejeitado o seu ministério como fez com os reis de Samaria. Oro para que eu esteja errado, e para que eles sejam levados ao arrependimento genuíno.

24. Minha maior preocupação, todavia, é com os muitos pequeninos que consideram este um grupo “abençoado”, como eu também já considerei. Angustio-me por saber que muitos ouvem as baboseiras que as “estrelas gospel” falam em seus púlpitos (ou melhor, palcos) e são incapazes de julgar seus ensinos à luz da Bíblia. Por favor, irmãos, prestem atenção! Vigiem! Tenham cuidado dos falsos mestres! Afastem-se deles! Não se deixem levar por caminhos que desagradam ao Senhor.

25. Entendam-me: não possuo nenhum problema pessoal com este grupo ou com seus membros. Pelo contrário, eu os defendi quando achei que as acusações eram invejosas. Quando chegaram os primeiros boatos dessa união com os católicos, eu também os defendi, pois não havia fatos consistentes. Agora, porém, são fatos noticiados por eles mesmos, e divulgados por todos os meios de comunicação! Por mais que os ame em Cristo, não posso mais caminhar com eles. Deus não me permite.

26. A sua Bíblia também diz o que a minha diz: RETIRAI-VOS, SEPARAI-VOS e NÃO TOQUEIS EM COISAS IMPURAS. Portanto, cabe a você examinar todas as coisas e obedecer a Deus, afastando-se de todo aquele que anda desordenadamente.

Fraternalmente, com pesar no coração, porém convicção no Espírito,
Vinícius

Qual é a unidade que agrada a Deus? (Parte 3)

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. (Efésios 4.1-6)

UNIDADE E SEPARAÇÃO

13. Tendo exposto os fundamentos sobre os quais está firmada a unidade do Corpo de Cristo, não é difícil observar que o mesmo fundamento desta unidade é a base de uma separação. A mesma Cruz que derrubou todos os muros dentro da Igreja é a Cruz que ergueu uma muralha intransponível entre os salvos e os não-salvos. É isto que Paulo nos ensina em Gálatas 6.14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.”

14. Esta muralha, obviamente, não quer dizer que os cristãos devam desprezar ou afastar-se dos perdidos. O Senhor nunca nos ensinou isto. Ao contrário, Ele nos tirou do mundo e nos enviou para o mundo para que déssemos frutos que permaneçam. É dever de todo cristão praticar o amor e as boas obras como consequência de sua salvação, socorrendo a todos em suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Todos, sejam os domésticos da fé, sejam aqueles que não conhecem a Cristo.

15. Todavia, existe um nível de relacionamento que é absolutamente impossível entre um cristão e um incrédulo. A Palavra de Deus é extremamente severa quando nos fala sobre isto: ““Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei,serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso”. (2Coríntios 6.14-18)

16. Observe as expressões utilizadas para descrever tal relacionamento: sociedade, comunhão, harmonia, união, ligação. Então, compare com as ordens que nos são dadas ao final do texto: RETIRAI-VOS, SEPARAI-VOS e NÃO TOQUEIS. Não há dúvidas que estamos diante de um tipo de relacionamento que é completamente inaceitável aos olhos de Deus. Sim, o mesmo Deus que ama e nos ordena amar também ordena a cada cristão que não esteja de modo algum ligado ao incrédulo.

17. A doutrina da separação é tão importante quanto o ensinamento acerca da unidade. Pois só pode haver a unidade do Espírito onde não há mistura com o Maligno. Sempre que há mistura com o Maligno, a unidade do Espírito é quebrada. Os homens podem preservar a instituição, o acordo, a confissão de fé. Mas a unidade do Espírito não subsiste quando os cristãos toleram a mistura e a profanação.

18. Lembremos de qual é a base da unidade genuína: Um só Espírito, Um só Senhor e Um só Deus Pai. Como podem estar debaixo dessa união aqueles que proclamam outros deuses? Como podem ser chamados de irmãos aqueles que desprezam o sangue pelo qual fomos comprados, e anunciam qualquer outro caminho para a salvação além de Jesus Cristo, nosso Senhor? Como podem estar unidos por Aquele que se chama “O Espírito da Verdade”, se desprezam completamente a Verdade (escrita e encarnada) que Deus nos revelou?

19. Tanto quanto é inaceitável a existência de divisões no meio do povo de Deus, é inaceitável que o Povo da Superior Aliança aceite a mistura e a profanação dentro de si. Em Samaria também havia o templo do Senhor e os templos dos ídolos, e Deus enviou o rei da Assíria para que os assolasse! E a Bíblia diz claramente: “Porque Deus os rejeitou”.

20. Precisamos estar do lado de Deus, irmãos! Precisamos estar contra aqueles que não amam a Verdade e acham que a união dos homens é mais importante do que a santidade de Deus. Digamos: NÃO!. Estejamos prontos para batalhar pela fé que nos foi entregue. Mesmo que isso nos isole.

Em Cristo,
Vinícius

Qual é a unidade que agrada a Deus? (Parte 2)

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. (Efésios 4.1-6)

A BASE DA VERDADEIRA UNIDADE

8. Qual é, porém, a base da unidade da Igreja? Paulo a chama “a unidade do Espírito”, querendo com isto demonstrar que a base da unidade do Corpo não é o “esforço diligente” que todo crente, de fato, deve empreender, e sim a ação do próprio Espírito Santo.

9. De fato, há muitos homens bem-intencionados que têm empreendido grande trabalho no sentido de produzir a unidade. Todavia, lamentavelmente todo este esforço é inútil, pois é somente o Espírito quem gera a unidade. Confissões de fé, Convenções e outros documentos possuem a sua utilidade, porém não queiram os seus autores usá-los para ajudar Deus Espírito Santo em sua obra. A unidade do povo de Deus não pode estar fundada no acordo dos homens, pois não seria mais do que construir sobre areia movediça. Se queremos a verdadeira unidade, ela precisa ser gerada pela ação do Espírito Santo, sobre o sólido fundamento da imutabilidade de Deus.

10. Que isto significa? Que precisamos dizer NÃO a toda e qualquer tentativa realizada por homens, que não estejam confiadas em uma ação do Espírito.

11. Porém a Bíblia nos diz mais sobre este assunto: a verdadeira unidade do Corpo só pode ser uma consequência da unidade do próprio Deus. Após dizer: “há um só corpo”, Paulo nos explica que esta verdade está fundada na unidade de Deus e dos Seus decretos:

Um só Espírito e Uma só esperança da nossa vocação. Todos nós fomos convencidos, regenerados e selados por um mesmo Espírito. Como pode haver desunião, se é um mesmo poder de vida que pulsa dentro de todos nós?

Um só Senhor, Uma só fé e Um só batismo. Por acaso não foi um só Salvador quem morreu por nós e determinou que, pela fé nEle, todos seríamos salvos? Também não é no mesmo e único nome de Jesus que todos nós fomos batizados? Por que, pois, estaríamos divididos debaixo de tantos outros nomes? Não! Somente em Seu nome nos reunimos!

Um só Deus e Pai. Não existem vários deuses. Há somente um Deus verdadeiro, e TODOS aqueles que servem e temem a este Deus verdadeiro “jogam no mesmo time”. Nenhuma divisão dentro deste povo pode fazer sentido.

12. Sendo assim, concluímos que a nossa unidade não existe e não pode existir por causa de fundamentos lançados por homens. Isto não é possível nem é necessário, uma vez que Deus já lançou o fundamento da verdadeira unidade: Ele mesmo. Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. A Ele, somente a Ele, a glória pela Unidade que Ele mesmo gerou. Aleluia!

Em Cristo,
Vinícius

Qual é a unidade que agrada a Deus? (Parte 1)

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. (Efésios 4.1-6)

UM CHAMADO À UNIDADE DA IGREJA

1. Não restam dúvidas de que a Bíblia contém um chamado à unidade que é dirigido a todos os cristãos. A fé cristã é uma fé universal (“católica”), porque Jesus Cristo, na cruz, removeu todas as barreiras de separação que outrora existiram. Judeus e gentios, homens e mulheres, ricos e pobres, cultos e iletrados: todos que são alcançados pela graça de Deus agora são UM em Cristo Jesus.

2. Isto significa que só existe UMA Igreja, que é a Igreja de Jesus Cristo, a comunhão universal dos seus redimidos. Ainda que os cristãos se reúnam debaixo de várias denominações (e embora eu não seja simpático a esta triste realidade), reconhecemos de fato que existe algo que nos une e que é muito maior que as nossas diferenças: Jesus Cristo, nosso Senhor, o Filho de Deus encarnado, cujo sangue nos purifica de todo pecado.

3. A Bíblia, no texto que ora analisamos, é enfática em nos exortar a que preservemos a unidade. Para tanto, a Palavra de Deus diz que devemos exercitar algumas virtudes cristãs: a humildade, a mansidão, a longanimidade e o amor.

4. As Escrituras nos dizem ainda que devemos nos “esforçar diligentemente”, revelando-nos que não será sem lutas que a unidade do Corpo de Cristo será preservada. Com isto, quer dizer a Escritura que a unidade só pode ser preservada onde permanece a Cruz; e, onde a Cruz permanece, não há espaço para o ego. A unidade da Igreja só pode existir quando os homens renunciam ao seu amor-próprio e à estima elevada que têm de si mesmos, para então reconhecerem nos outros algo de muito mais valor do que aquilo que eles próprios possuem.

5. A falta de amor altruísta e o excesso de amor-próprio são, portanto, a verdadeira causa de tanta desunião no meio do povo de Deus. Onde se manifesta o fruto do Espírito, que é sobretudo o amor, as obras da carne não podem subsistir. E não é sem razão que oito das dezesseis obras da carne de Gálatas 5 estão relacionadas à quebra da unidade: inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas. A falta de unidade na Igreja é consequência da extrema carnalidade em que vivem os cristãos.

6. A perplexidade de Paulo diante da carnalidade dos crentes em Corinto permanece em nossos dias como uma advertência severa: “Acaso, Cristo está dividido?” Para Paulo, era impossível imaginar que o seu Senhor, aquele sobre quem a profecia afirmava que “nenhum dos seus ossos será quebrado”, possuísse um Corpo retalhado. E ele não estaria menos assombrado caso servisse entre nós nos dias de hoje.

7. Esforço diligente. Esta é a atitude exigida dos cristãos para a preservação da unidade, atitude que precisa ser precedida de humildade, mansidão, longanimidade e amor. Sem estas quatro virtudes, o esforço será inútil. Porém, com a manifestação do fruto do Espírito, é possível a cada crente renunciar a si mesmo em favor dos seus irmãos e da unidade da Igreja. Que o Senhor leve cada um de nós a este esforço diligente.

Em Cristo,
Vinícius

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,


4.2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,


4.3 esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz;


4.4 há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação;


4.5 há um só Senhor, uma só fé, um só batismo;


4.6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.

Semelhantes a Jesus – O que isso significa?

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29)

Você já parou para pensar no que verdadeiramente significa ser semelhante a Jesus? Você realmente sabe quão elevado é o padrão de Deus para a vida do Seu povo? Já vimos Rm 8.29 que diz que o propósito de Deus é nos fazer CONFORMES à imagem do Seu Filho. O que é conformar? É assumir a forma de alguma coisa. Observe a água: ela tem a interessante propriedade de se moldar à forma da vasilha ou da garrafa em que for colocada. Seja lá onde eu puser água, ela irá assumir a forma daquele recipiente. A água se conforma a qualquer coisa.

E o cristão? Como ele deve ser? Bem, a Bíblia nos dá dois conselhos:

1. Não devemos nos conformar com este mundo (Rm 12.1-2)

2. Devemos ser conformados à imagem do Filho de Deus (Rm 8.29)

Vamos ainda até Ef 1.4. A Bíblia nos diz que devemos ser santos, mas não apenas isto. Devemos ser santos PERANTE ELE, isto é, diante de Deus. A santidade segundo os homens não interessa a Deus. Ser uma pessoa boa não interessa a Deus. Ser alguém que os homens elogiam e respeitam e admiram não tem valor nenhum diante do Pai. Ele quer que sejamos santos perante Ele, isto é, aos Seus olhos. A santidade e irrepreensão que as Escrituras exigem de nós não é diante dos homens nem segundo o padrão dos homens, mas é diante de Deus e segundo o padrão de Deus.

Existe ainda uma terceira observação importante sobre o que significa ser semelhante a Jesus. Talvez pareça a alguns que o propósito de Deus é simplesmente que nós tenhamos as características, as qualidades de Jesus. Mas as coisas não são assim. Deus nunca diz que devemos ter o caráter ou as qualidades de Jesus em nós. A Bíblia diz em Cl 1.27-28 que o verdadeiro mistério de Deus é CRISTO EM NÓS. Não apenas algumas qualidades do Filho de Deus, mas o próprio Filho em nós.

Veja, são coisas muito diferentes: possuir as características de Jesus é, ao menos em parte, possível a qualquer homem, inclusive os incrédulos. Conheço homens que não tem qualquer relacionamento com o Senhor e são humanamente amáveis, respeitadores, bondosos até. Mas isso não me espanta, pois o que Ele quer de nós não é uma mera “aparência” de Cristo, e sim um transbordar da vida do Senhor Jesus que resulte numa manifestação exterior da Sua habitação interior em nós. Nós não devemos buscar, portanto, uma mera semelhança exterior a Cristo. Ser semelhante a Jesus, num sentido verdadeiramente bíblico, é exalar o Seu perfume e expressar a Sua natureza que foi implantada em nós pelo Espírito Santo. Isto é Cristianismo. Este é o propósito de Deus.

Em Cristo,
Vinícius

Correndo a carreira até o fim (2)

Correndo a carreira até o fim (2)

[Antes de ler este post, leia “Correndo a carreira até o fim (1)”]

2. EXISTE UM PERIGO REAL E EMINENTE DE QUE NÃO CHEGUEMOS AO FINAL DESTA JORNADA, E FIQUEMOS NO MEIO DO CAMINHO

“Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.” (Hebreus 12.3)

Se, de fato, existe uma carreira que nos foi proposta por Deus e que deve ser corrida com perseverança até o fim, também existe o perigo real de que esta carreira nunca seja acabada. O versículo 3 do texto que estamos estudando é um alerta para que nenhum crente ignore o fato de que ele pode se cansar (“fatigar-se”) e até desmaiar no meio do caminho. Será que temos esta consciência?

É importante notarmos que o cansaço e o desmaio que nos ameaçam não significam a mesma coisa que apostatar da fé. A apostasia revela que o apóstata nunca pertenceu verdadeiramente ao Senhor (conforme 1João 2.19). Todavia, creio que aqui o escritor aos Hebreus está se dirigindo aos crentes, aqueles que foram verdadeiramente salvos e remidos no sangue de Jesus.

O perigo de cansar-se ou desmaiar, portanto, não é o perigo de abandonar Jesus. Ora, aqueles que pertencem ao Senhor serão preservados pelo próprio Jesus, como Ele mesmo nos prometeu! “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.” (João 10.28) E qual é o perigo, então? Observemos as nossas próprias vidas, e veremos que muitos crentes verdadeiramente salvos pararam de avançar, de crescer, de amadurecer. Eles pararam no meio do caminho, cansados ou desmaiados, e ficaram vendo os outros crentes avançarem. Estes crentes nunca poderão repetir a frase gloriosa do apóstolo Paulo ao final de suas vidas: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Eles nunca sentirão o prazer de terem entregado suas vidas por completo ao controle do Espírito Santo. E, embora entrem no céu, posto que foram verdadeiramente nascidos de novo pela ação do Espírito Santo, não será sem dano que estes crentes serão salvos: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.” (1Co 3.14-15)

Observemos a vida de Moisés. Seu nome está arrolado na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11. Não restam dúvidas de que Moisés foi salvo, e sua vida permanece um grande exemplo de fé e serviço a Deus para todos nós. Todavia, embora Moisés tenha servido o Senhor, sendo usado poderosamente para libertar Israel da escravidão do Egito, ele não entrou na terra prometida. Por quê? Por causa de um pecado cometido no final da carreira.

Oh, que nós possamos sentir o terror deste verdadeiro perigo que nos ronda! Que possamos temer ficar no meio do caminho! O próprio Paulo, embora estivesse plenamente convicto de sua salvação, sabia que havia um risco de não terminar a jornada e o desafio que Deus lhe tinha proposto: “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” (1Coríntios 9.27)

Gostaria de enfatizar mais um pouco: alguns crentes jamais poderão dizer que concluíram o seu trabalho em vida, e serão desqualificados pelo Senhor por causa disso. Estes são aqueles que ficam pelo meio do caminho, cansaços ou desmaiados. E o que faz um crente chegar a tal estado de sua vida espiritual? Podemos citar, como exemplo, algumas causas de cansaço e desmaio na jornada da vida cristã:

Pecados não confessados – “Se eu no coração contemplara a vaidade [ou iniquidade], o Senhor não me teria ouvido.” (Salmo 66.18) Muitos crentes deixaram de crescer porque guardam pecados em seu coração. Podem ser “pecadinhos” ou “pecadões”, mas todo pecado amarra o crente e impede o seu avanço na caminhada.

Derrotas seguidas pela carne – O crente que cai seguidamente na mesma armadilha da carne acaba se cansando de lutar e, por fim, desmaia. Falamos bastante sobre isso nos posts “O que eu faço com Romanos 6?”, “As duas exclamações de uma vida que vence o pecado (1)” e “As duas exclamações de uma vida que vence o pecado (2)”.

Soberba e arrogância – Aquele que pensa já ter aprendido o suficiente, ou acha que não precisa de outros que o ajudem na caminhada, certamente ficará no meio do caminho. Mais cedo ou mais tarde, sentir-se-á cansado e desfalecerá.

Contentamento com a mediocridade – Isso acontece quando um cristão olha para os demais crentes à sua volta e pensa: “Eu vivo como eles também vivem. Isso basta”. Oh, que nunca venhamos a nos nivelar pelo padrão dos homens, mas que tenhamos sempre em vista Jesus, o nosso eterno e perfeito Salvador.

Inimizades com irmãos – É impressionante a facilidade com que nós crentes nos deixamos ferir. Existem muitos cristãos que deixaram de crescer porque se magoaram com um irmão da tal maneira que não conseguem olhar para mais nada em suas vidas senão para suas feridas de alma.

Envolvimento com as coisas desta vida – Família, trabalho, amizade, namoro, dinheiro – todas estas coisas fazem parte desta vida, e por isso não podemos deixar de lidar com elas. Entretanto, jamais podemos nos envolver com elas a ponto de o nosso crescimento e avanço em Deus serem impedidos. Quantos de nós não temos deixado de percorrer a carreira por causa delas!

Invejas e ciúmes – Reparar demais nas coisas que os outros têm também é um dos motivos pelos quais um cristão pode ficar cansado ou desmaiado em sua jornada.

Frustrações com pessoas – Será que você nunca viu uma situação como essa? Crentes que se decepcionam com pastores, líderes e irmãos em quem confiavam, e jamais são os mesmos por causa disso. Esta é uma das causas mais preocupantes de desmaio na fé.

Frustrações consigo mesmo – No calor da comunhão com Deus, sempre fazemos tantos planos e e votos! Mas poucos de nós verdadeiramenre conseguimos perseverar neles. A maioria simplesmente se frustra quando seus projetos demoram a dar certo ou não acontecem como se imaginava. Frustrações seguidas por este motivo causam paralisia na caminhada!

Lembre-se: ficar no meio do caminho é um perigo real na vida de todo crente em Cristo Jesus. Nunca pensemos que somos imunes a este risco, pois isto, por si só, já representa um verdadeiro desmaio na jornada da vida. Que possamos nos desembaraçar de todo peso e de todo pecado que tenazmente nos assedia, deixando para trás qualquer causa de cansaço ou desmaio.

Como podemos, então, escapar desse perigo de ficarmos no meio do caminho? Como podemos chegar ao fim da jornada com a certeza de que completamos a nossa missão? Este é o assunto do próximo estudo.

[continua]

Em Cristo,
Vinícius Pimentel

Correndo a carreira até o fim (1)

Correndo a carreira até o fim

“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.” (Hebreus 12.1-3)

O propósito desta mensagem é mostrar 3 verdades bíblicas que estão descortinadas nos três primeiros versículos do capítulo 12 de Hebreus:

  1. Todo crente, uma vez salvo, é colocado em uma jornada e deve percorrê-la até o fim;
  2. Todavia, existe um perigo real e eminente de que não cheguemos ao final desta jornada, e fiquemos no meio do caminho;
  3. O único meio de perseverarmos até o fim da carreira é mantendo os olhos fixos em Jesus.

1. TODO CRENTE, UMA VEZ SALVO, É COLOCADO EM UMA JORNADA E DEVE PERCORRÊ-LA ATÉ O FIM

A primeira coisa que observamos no texto em questão é que fomos convocados a correr uma carreira. Esta é uma verdade reiterada por todo o Novo Testamento, embora também seja uma das verdades mais ignoradas pelos cristãos atualmente.

O fato é que, enquanto estávamos perdidos, estávamos num terreno de morte e de perdição. Todavia, quando Deus nos resgatou, nós fomos definitivamente removidos desse terreno e colocados em um novo terreno, que é o terreno da ressurreição. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13-14). A salvação é justamente a nossa remoção de um terreno velho e infértil para o maravilhoso solo de Cristo e de Sua vida.

O que a maioria dos cristãos não compreende é que tal remoção não é o final da história, mas o começo. A salvação não é o fim do caminho, mas apenas o pontapé inicial da carreira em que Deus nos inseriu. Sem a salvação, jamais poderíamos correr a carreira, pois estávamos no terreno errado, o terreno da morte. Mas uma vez que fomos tirados desse velho terreno e colocados em um novo plano de vida, precisamos saber o que fazer com esse “tudo se fez novo” que o Senhor nos deu através da graça. Em outras palavras, a salvação que recebemos trouxe absoluta novidade de vida para nós: um coração novo, um espírito novo, um novo Soberano, uma nova natureza, uma nova lei em nosso homem interior… Só que toda essa herança recebida de graça deve servir a um propósito, e este propósito é precisamente a carreira para a qual fomos chamados.

A segunda coisa que observamos a este respeito é que esta carreira é proposta por Deus. Nós não nascemos do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E foi o próprio Deus quem nos designou uma carreira a percorrer e um alvo a alcançar. Se existem muitos crentes que ignoram o fato de estarem numa carreira, também existem muitos crentes que estão tentando correr a sua própria carreira, e não a carreira que Deus propôs. E a verdade é que ninguém pode encontrar pleno gozo em sua salvação se não estiver em conformidade com aquilo que Deus planejou para nós como nossa missão. Não é nossa responsabilidade estabelecer a nossa jornada; nosso dever é alinharmo-nos à vontade de Deus e percorrer a jornada que ele previamente determinou.

Quando observamos a vida do apóstolo Paulo, podemos distinguir três fases da sua carreira. Isto é importante, porque também nós precisamos passar por estas três fases na nossa jornada em Cristo. Em Filipenses 3.12, Paulo diz: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus”. Em Atos 20.24, o mesmo Paulo afirma: “Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. Por fim, em 2Timóteo 4.7-8, o apóstolo diz as últimas palavras de sua peregrinação na terra: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”.

Aqui nós enxergamos três fases bem distintas de Paulo sobre como ele se enxergava em relação à carreira que Deus lhe tinha proposto. Primeiro, ele diz: “Ainda não completei a carreira”. Depois, “Tudo o que me interessa é completar a minha carreira”. Por fim, indo em direção à morte, o velho Paulo descansa nestas palavras: “Completei a carreira, e estou seguro do prêmio que receberei”.

Nós precisamos passar por esta mesma experiência! Se é verdade que ainda não terminamos nossa jornada, é uma verdade ainda mais importante que toda a nossa vida deve ser direcionada de tal forma que, no fim dela, possamos olhar para trás e dizer: Eu terminei! Cumpri a minha missão! Estou certo de que o Senhor, reto Juiz, me recompensará por isso.

Todavia, quantos de nós realmente concentramos os nossos esforços nesse sentido? Estamos realmente em busca de completar a jornada? Estamos sendo perseverantes nessa caminhada? Temo que muitos de nós, ao fim de sua vida, não poderão olhar para trás e dizer: “Completei a carreira”, mas, lamentando, terão que reconhecer: “Eu desperdicei tanto tempo! Joguei fora tanto vigor! Negligenciei tantos dons!”

Não é esta a vontade de Deus para nós. Ele está fornecendo toda provisão necessária para que possamos terminar a carreira. Mas existe, sim, um perigo real de que não venhamos a concluí-la. Sobre isso falaremos no próximo post, se Deus permitir.

[continua]

Em Cristo,
Vinícius Pimentel

As duas exclamações de uma vida que vence o pecado (2)

[Antes de ler este estudo, leia “O que eu faço com Romanos 6?” e “As duas exclamações de uma vida que vence o pecado (1)”]

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. (Romanos 7.14-25)

Como podemos reagir ao pecado que tenazmente nos assedia? Qual o segredo para obtermos uma experiência de completa vitória sobre o pecado? O segredo está nas duas exclamações que Paulo faz em Romanos 7:

“MISERÁVEL HOMEM QUE SOU!”

Todo cristão precisa descobrir o quão imunda, inútil, imprestável e miserável é a nossa carne. É triste que a maioria de nós não consiga entender que “carnalidade” não é apenas cometer pecados grosseiros, mas é também qualquer tentativa de vencer o pecado na sua própria força. Sim, lutar contra o pecado confiando em seus esforços humanos é uma grave demonstração de carnalidade!

São poucos os crentes que compreendem esta verdade: não existe NADA de bom em nós mesmos, nada que agrade a Deus. Todas as nossas melhores obras e esforços são diante dele como trapos de imundícia! E são menos ainda os crentes que de fato vivenciam esta realidade no seu dia-a-dia. Sim, porque não basta saber que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum”; é preciso que tal realidade produza em nós uma total desistência, uma completa resignação quanto ao fato de que não podemos vencer o pecado com base num esforço próprio.

Não há qualquer esperança de vitória enquanto confiamos na nossa carne! Nossos esforços, nossos métodos, nossas estratégias, nossos jejuns, nossas orações, nossa aparente piedade – nada disso pode ser a base da nossa confiança! Nenhum cristão pode experimentar uma vitória definitiva e completa sobre o pecado enquanto não aprender a dizer: “Miserável homem que sou!” Precisamos desprezar a nossa carne antes de podermos guerrear contra ela.

Alguns comentaristas sugerem que Romanos 7 relate algum tipo de crise pela qual o apóstolo Paulo estava passando. Apesar de esta ser uma questão difícil, não me parece plausível que Paulo estivesse falando de alguma experiência meramente pessoal. Os capítulos 6 e 8 da carta aos Romanos relatam dois dos mais gloriosos fundamentos da vida cristã: a nossa posição de vitória em Cristo e a nossa experiência de vitória sendo guiados pelo Espírito. O capítulo 7 mais parece ser um hiato, uma passagem crítica que deve ser essencial para todo crente que queira experimentar a vitória sobre o pecado através de uma vida guiada e controlada pelo Espírito Santo.

O que isto significa? Que não podemos vencer o pecado sem antes desistirmos de nós mesmos. Não podemos experimentar o gozo da plena libertação que Cristo conquistou para nós se primeiro não abandonarmos qualquer tentativa de auto-libertação. Você dirá: “mas eu não confio em mim mesmo! Eu sei que tudo é graça!” Todavia conhecer as doutrinas da graça não é o mesmo que experimentá-las e viver por elas. São muitos os que crêem que, tendo sido salvos pela graça, agora devem empreender um largo esforço para perseverarem em sua carreira. Não! Não pode restar qualquer tipo de expectativa de que eu seja capaz de alguma coisa. Uma tal esperança irá me levar a confiar na carne e, fatalmente, o resultado será aquele de que falamos no estudo anterior: frustração, inconstância e desespero.

Que possamos nos unir a Paulo e gritar, com plena convicção: Miserável homem que sou! Que esta seja uma experiência diária de mortificação do nosso ego.

“GRAÇAS A DEUS POR JESUS CRISTO, NOSSO SENHOR”

Mas e daí? Basta que um crente desista de lutar contra o pecado com base no seu próprio esforço, e então ele estará livre do seu domínio? Já vimos no primeiro estudo que não. Desistir de lutar contra o pecado é diferente de desistir de vencer o pecado. A primeira desistência revela que aprendemos a não confiar na carne; a segunda revela que, na verdade, nos rendemos aos desejos dessa mesma carne.

Não é suficiente que eu remova as minhas esperanças de vitória com base num esforço próprio; é preciso que eu transfira essas esperanças para alguém que possa satisfazê-las plenamente. E em quem eu encontro tal conforto? Certamente que em Jesus Cristo, nosso Senhor!

Ora, se eu não posso vencer o pecado, certamente há alguém que pode, e já venceu! Aquele que foi tentado em todas as coisas, como nós também somos, todavia sem pecado; Aquele que veio ao mundo sem pecado e saiu dele sem pecado – é neste que colocamos a nossa confiança! Se, por um lado, eu descubro em Romanos 7 que não posso derrotar a carne usando a própria carne, lá eu também descubro que posso obter esta vitória confiando em Jesus Cristo, nosso Senhor.

A base para tal confiança são justamente as verdades gloriosas de Romanos 6, as quais também podemos encontrar em todo o Novo Testamento. Muito mais do que um sacrifício substitutivo, a obra de Jesus foi também um sacrifício representativo ou inclusivo. Se é verdade que Jesus morreu por nós como aquele que sofreu a ira de Deus por causa dos nossos pecados, também é verdade que nós morremos com Jesus para nos livrarmos do domínio do pecado em nossas vidas. Sendo assim, fomos incluídos em sua cruz e sua morte para sermos livres do pecado. Mas também fomos incluídos em sua ressurreição para desfrutarmos de uma nova vida – ou melhor, para desfrutarmos da Sua vida, a vida eterna, a vida do próprio Deus Eterno. E, para além de tudo isso, fomos incluídos em sua ascensão gloriosa, pois Deus “nos fez assentar em lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.6).

Oh, que verdades gloriosas! Deus nos incluiu em Cristo para que possamos desfrutar da sua completa vitória. Se não estamos em plena união com Ele, estamos derrotados. Mas a verdade é que já fomos unidos a Ele: estamos mortos com Ele, ressuscitados com Ele, e assentados com Ele em lugares celestiais. Se damos graças a Ele por tudo o que Ele conquistou para nós, obtemos completa vitória em nossa experiência de vida.

DUAS EXPERIÊNCIAS BEM DISTINTAS

Você compreende a diferença entre o crente carnal e o crente espiritual, nessa questão da luta contra o pecado? O crente carnal luta com todas as suas forças para resistir ao pecado, obtém algumas vitórias parciais sobre ele, mas será inevitavelmente derrotado, mais cedo ou mais tarde. O resultado é frustração e inconstância – uma vida cheia de altos e baixos, até que este crente finalmente chegará ao desespero e desistirá de vencer o pecado.

O crente espiritual, por sua vez, é aquele que passa pela difícil caminhada de Romanos 7. E, nessa caminhada, ele descobre que sua carne não presta nem mesmo para boas obras, e então desiste de lutar contra o pecado em seus próprios esforços. Todavia, ao invés de assumir uma postura de passividade e indiferença, o crente espiritual descobre que Cristo Jesus já conquistou toda a vitória e a tornou disponível para nós! Ele, então, se apodera dessa vitória e passa a reinar com Cristo sobre a terra. Como ele se apodera? Dando graças a Deus por Jesus Cristo. Sim, o louvor é a chave para obtermos esta graça.

Embora seja verdade que todo crente possa dizer que está assentado em lugares celestiais em Cristo, nem todos os filhos de Deus podem dizer que reinam com Cristo sobre a terra (Ap 5.10) e nem todos podem dar graças a Deus porque, em Cristo, sempre andam em triunfo (2Co 2.14). Você pode, com base na sua experiência diária, fazer essas duas afirmações? Você pode afirmar que tem obtido, em Cristo, completa vitória sobre o pecado? O segredo está em desistir de si mesmo, e dar graças a Cristo, confiando que é em Sua obra perfeita que reside a nossa experiência de triunfo.

Que nossa vida diária possa ser conduzida por essas duas afirmações: “Miserável homem que sou” e “Graças a Deus por Jesus Cristo”, a fim de que alcancemos completa vitória em meio às tentações.

Em Cristo,
Vinícius Pimentel

As duas exclamações de uma vida que vence o pecado (1)

[Antes de ler este estudo, leia “O que eu faço com Romanos 6?”]

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. (Romanos 7.14-25)

Já vimos que Romanos 6 nos mostra as verdades de fé, a posição vitoriosa de um homem justificado do pecado. Mas existe uma questão a resolver: se Deus nos diz que já morremos para o pecado, que fomos feitos servos da justiça e que o pecado não terá domínio sobre nós, por que então vemos tantos cristãos escravizados pelo pecado em suas vidas? Se Deus nos libertou e nos deu uma posição de completa e definitiva vitória sobre o pecado, por que a maioria dos cristãos não experimenta essa realidade de fé que nos é revalada na Escritura? Haja Deus falhado?

Certamente que não! Seja Deus verdadeiro e todo homem, mentiroso! Deus não falha em Sua Palavra e Ele não falhou no que diz em Romanos 6. Ora, se cremos que Deus pode fazer aquilo que Ele diz que irá fazer, como não creremos que Deus pode ter feito aquilo que Ele disse que já fez?

Perguntamos de novo: por que razão muitos cristãos não experimentam vitória sobre o pecado, apesar de terem efetivamente sido salvos e colocados numa posição vitoriosa em Cristo?

A resposta para todas essas indagações está em Romanos 7. Se Romanos 6 nos relata a posição de vitória do cristão, Romanos 7 é a triste descoberta de que, apesar de tal posição, permanece em nós uma terrível força que nos impulsiona para fazer o mal. Esta força é a carne. E é ela o grande empecilho para que o cristão desfrute e goze das alegrias de uma vida que vence o pecado.

QUEM MORREU?

O problema não está em que Deus não tenha providenciado, em Cristo, tudo o que precisamos para a nossa caminhada cristã em vitória. Ele o fez. O problema é com a nossa postura, com a forma como reagimos às investidas do pecado em nosso dia a dia.

Precisamos compreender que Romanos 6 não diz que o pecado morreu para nós, mas que nós morremos para o pecado. O pecado continua existindo, seduzindo e tentando aqueles que Cristo já alcançou. O pecado continua tão pecaminoso quanto antes! Tão sutil, ardiloso e feroz como sempre foi. A nossa esperança de vitória não está em que o pecado deixe de nos afrontar, mas em que nós possamos ser interiormente libertos do seu domínio.

Entretanto, ao tentarmos vencer o pecado interiormente, encontramos em nós mesmos aquela força maligna que nos impulsiona não para longe do pecado, mas para perto dele! Essa é a triste descoberta do apóstolo Paulo: que, embora Cristo tenha efetivamente nos incluído em sua morte e nos livrado do domínio escravizador do pecado, permanece em nós uma força colossal que tenta nos tornar, outra vez, seus escravos.

Essa descoberta é um fato da experiência de todo cristão. Mas como reagimos a ela? Como lidamos com o fato de que a nossa carne continua desejando o pecado?

AS DUAS REAÇÕES DO CRENTE CARNAL

Infelizmente, a maioria dos cristãos não assume uma postura correta diante das tentações. Eles fazem exatamente o que a carne espera que eles façam!

Muitos simplesmente desistem de obter vitória sobre o pecado. Quando vêem o pecado diante de si, sentem-se atraídos por ele. Então, percebendo a força daquela atração, tais cristãos afrouxam e se deixam levar pelas tentações. “Não adianta lutar, o pecado é  mais forte do que eu”, é esta a conclusão a que chegam. Entram num estado de passividade, entregam-se às suas próprias paixões e desejos, e começam a conviver com aquilo que muitos têm chamado “pecados de estimação”. Acostumam-se com aquela derrota, e se tornam cristãos derrotados.

Oh, mas não foi para isto que Cristo nos libertou! Ele não nos livrou para voltarmos, outra vez, ao domínio do pecado! O Espírito pergunta: “Como viverão ainda no pecado aqueles que já morreram para ele?” Que possamos compreender que Cristo nos libertou para sermos, verdadeiramente, livres!

Há ainda um outro grupo de crentes que reage de forma diferente. Quando a tentação se apresenta diante desses cristãos, eles cingem os lombos, entram em “posição de combate” e pensam: vamos à luta! Todavia, esta postura também é carnal. Estes crentes fazem bem em lutar contra o pecado, mas fazem muito mal em usar a arma errada! Eles confiam na força do seu próprio braço; eles contam com seus próprios esforços para viver a vida cristã e obter vitória.

As consequências dessa segunda atitude contra o pecado são frustração e inconstância. O crente que luta contra o pecado como se este fosse um inimigo ainda por vencer descobrirá da pior forma possível que é totalmente incapaz de fazer o que agrada a Deus. Ele conseguirá obter algumas vitórias parciais sobre o pecado; conseguirá fugir de algumas tentações e esboçará algum sucesso. Mas está, inevitavelmente, fadado ao fracasso, porque não percebeu ainda que o querer o bem está nele; não, porém, o efetuá-lo.

Você conhece crentes assim? Talvez você seja um deles. Eles são muito sinceros na sua devoção e no seu desejo de agradar a Deus. Todavia eles são carnais. Eles confiam em seus próprios esforços para viver a vida cristã. É por isso que tais cristãos são marcados por frustração e inconstância. Um dia estão muito bem, porque obtiveram algum sucesso sobre determinados pecados. No dia seguinte, contudo, aqueles mesmos pecados retornam e os vencem. E, então, eles se frustram e já não sabem o que fazer.

Watchman Nee certa vez escreveu: “Aqueles de nós que são derrotados gastam os seus dias em derrota e vitória, vitória e derrota, pecando e arrependendo-se e arrependendo-se e pecando: é uma vida que continuamente anda em círculos, que só termina ao cairmos em profundo desespero. Portanto, se lograrmos controlar o pecado, simplesmente o suprimiremos por um período de tempo; ou se falharmos em suprimi-lo consideraremos que o pecado é inevitável, e cairemos em desespero.” (A Vida Que Vence)

Ora, mas não foi para isso que Cristo nos salvou! Não fomos chamados para obter vitórias parciais sobre o pecado, mas para sermos completamente livres de seu domínio, andando continuamente em triunfo com Cristo!

Como podemos, então, reagir ao pecado que tenazmente nos assedia? Qual o segredo para obtermos uma experiência vitoriosa sobre o pecado? O segredo está em descobrir as duas exclamações que Paulo faz em Romanos 7.

[continua…]

Em Cristo,
Vinícius Pimentel